
Conhecida como a capital nacional dos freeshops, Uruguaiana é referência no caminho que une Brasil, Argentina e Uruguai. Isso se dá principalmente por usa posição geográfica. Além de fazer divisa com a cidade argentina de Paso de Los Libres, a Uruguaiana está localizada praticamente à mesma distância de Buenos Aires, Montevidéu, Assunção e Porto Alegre, o que a torna rota importante na integração do Mercosul.
Uruguaiana também é conhecida por ser uma das cidades onde está localizada a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), referência em educação na região. Por ser uma instituição federal de educação superior multicampi, ou seja, suas instalações estão distribuídas em diversas localidades.
Talvez você não esteja entendendo o rumo desta conversa, mas para quem está habituado a acompanhar o mundo do padel, basta ver o nome das cidades onde a Unipampa tem Campus para fazer a ligação: Alegrete, Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana.

A cidade de Alegrete, por exemplo, é famosa entre os padelistas. Suas quadras formaram atletas como Lucas Campagnolo, que está entre os melhores do mundo no World Padel Tour e Premier Padel, JP Flores e Stefano Flores, figuram entre os melhores do APT Padel Tour, Patric Vaz Leaes, Gabriel Almeida e tantos outros. De Uruguaiana, vemos a nova geração vindo forte, como o caso de Lucas Fernandes Silva, atleta da seleção brasileira de menores.
Com tantos nomes de peso, já foi possível entender que esta região, fronteira com a Argentina, é referência nacional no padel. Não é de se espantar que partiu dali uma inciativa que pode vir a ser o rompimento de uma barreira que pode mudar a história do desenvolvimento do esporte no Brasil: um projeto que ensina padel a acadêmicos da Universidade Federal do Pampa.
Projeto Padel Cidadão
O Projeto Padel Cidadão iniciou suas atividades no ano de 2019 na cidade de Uruguaiana no Rio Grande do Sul e foi proposto por iniciativa da acadêmica de educação física da Universidade Federal do Pampa, Mariza de Fátima dos Santos Sanchez.

Praticante assídua de padel, Mariza buscou uma forma trazer o esporte para dentro do contexto universitário e desenvolver, a partir aí, um projeto de ação social.
O Professor Doutor Phillip Vilanova Ilha, titular da Unipampa, contou ao Super Padel como foram os primeiros passos do projeto dentro da universidade.
“A Mariza trouxe a proposição do projeto para o Grupo de Estudos de Educação Física e Esportes da Universidade (GEEFE), e o grupo a ajudou a colocar em prática. Foi definido então que o projeto seria dividido em duas partes. A primeira parte foi voltada para o ensino do padel aos universitários, e a segunda parte como projeto de extensão, que é a parte social do projeto, onde os acadêmicos ensinam padel a crianças da rede pública de ensino. Daí surgiu o Projeto Padel Cidadão.”
Phillip Vilanova Ilha, professor da Unipampa.
Além da formatação do projeto dentro da universidade, dois fatores foram determinantes para que a proposição de fato funcionasse.
O primeiro desafio foi a busca por um espaço onde as aulas pudessem acontecer. Foi aí que entrou o Complexo Esportivo Padel do Engenho, tradicional clube da cidade de Uruguaiana, e seu proprietário Volney Monteiro, um grande incentivador do padel na região. Volney recebeu a proposta da acadêmica Mariza de braços abertos, e além de disponibilizar toda a estrutura física como quadras, bolinhas e raquetes sem nenhum custo, ajuda na aplicação das aulas.
O segundo passo foi o fechamento da parceria com uma escola da rede pública que levasse os alunos até o clube semanalmente para participar das aulas.
Na prática, funciona assim: acadêmicos de educação física da Unipampa se reúnem semanalmente no complexo esportivo para aprender padel e complementar sua formação neste esporte de raquetes. Em outros dias e horários, os alunos da rede pública são levados ao clube para fazer aulas de padel com os acadêmicos que já aprenderam padel no projeto, orientados por Mariza e por Volney.
A professora doutora Fernanda Stein, que atua na magistratura da Unipampa, falou ao Super Padel sobre a relevância do projeto:
“É uma parceria entre universidade, clube e escola. Quem media tudo isso é a própria Mariza, com o auxílio dos nossos acadêmicos, que agora estão tendo uma excelente formação para trabalhar com o padel, como um dos conteúdos dos esportes de raquete da educação física. Por outro lado, as crianças não tinham acesso a um clube, elas não tinham acesso a esses materiais, então essa foi a forma que foi encontrada para viabilizar que elas tenham essa experiência, que tenham essa vivência com padel e que possam praticar a modalidade, que no contexto escolar atual não é possível.”
Fernanda Stein, professora da Unipampa.
Hoje o Projeto Padel Cidadão atende 45 crianças da rede pública de ensino de Uruguaiana, com faixa etária dos 10 aos 14 anos.
Entrevista

O Super Padel conversou com Mariza Sánchez, idealizadora do projeto para saber um pouco mais sobre o dia a dia das atividades:
– Como tem sido a receptividade entre os alunos da universidade?
Mariza: Muito boa, como muitos são de fora da cidade e só começaram a ter contato com o esporte através do projeto. Eles veem nisso uma oportunidade ímpar de conhecer uma prática corporal nova e que pode, e deve, ser estudado no componente curricular de esportes de raquetes.
– Como é a reação dos alunos da rede pública?
Mariza: Muito boa, eles adoram. Temos alunos que continuaram jogando, mas temos a preocupação de dar oportunidade de eles continuarem, então foi feito pedido da construção de uma quadra pública no município, o pedido foi acatado, mas a quadra ainda não ficou pronta.
– O projeto continua por tempo indeterminado? Há alguma expectativa de ampliá-lo?
Mariza: A expectativa é de que o projeto continue mesmo após eu me formar. A ideia de ampliá-lo já foi cogitada, abrindo mais turmas em outros horários, por isso focamos nas aulas para a formação de mais colegas.
O impacto das atividades do projeto não se restringe ao tempo em que os universitários permanecem em ambiente acadêmico. A ex-universitária e hoje professora de educação física Lúcia Rivero, contou ao Super Padel um pouco sobre sua experiência no projeto:
“Enquanto era aluna da universidade e participante do Padel Cidadão, percebi como esse projeto acrescentava na vida daquelas crianças, porque nós aprendíamos para ensiná-las e elas retribuíram e tinham vontade de aprender mais sobre o padel. Hoje, como professora de Educação Física e ainda ajudante do projeto, o enxergo como um formador de comportamentos que, além de aumentar os vínculos sociais, é um meio de descontração e desenvolvimento. É muito gratificante o que a gente faz, e essa parceria entre universidade e centro esportivo, permite que a gente dê o nosso melhor no ensino do esporte.”
Lucia Rivero, professora de educação física e ajudante do projeto.
Legado acadêmico e difusão do esporte
Além do ganho social promovido aos estudantes da rede pública e da formação de professores de educação física capacitados para o ensino de padel, o conhecimento acadêmico gerado com pesquisas, artigos e trabalhos de conclusão de curso talvez seja o maior legado gerado pelo projeto.
Acadêmicos e professores da Unipampa têm participado de importantes simpósios ligados à educação e esporte para falar sobre o projeto e sobre padel. Artigos científicos de acadêmicos e professores sobre o tema começam a ser divulgados em revistas científicas. E é só o começo.
“O projeto tem gerado muitos estudos dentro do ambiente acadêmico. Todos estes estudos são muito relevantes para a própria universidade e para que os futuros professores tenham em que basear seus futuros projetos e aprendizados sobre padel. Eu também dei aula online para Acadêmicos da Unicamp a convite da professora Taísa Belli, que é mesatenista. Inclusive o meu próprio TCC, que estou escrevendo, trata sobre o projeto.”
Mariza Sánchez, idealizadora do Projeto Padel Cidadão
Confira mais imagens do projeto:






MAYCON HENSCHEL PARA O SUPER PADEL
Parabéns a todos, principalmente a Mariza 👏👏👏