Em entrevista a Isaías Blaiotta, para o Olé, Agustín Tapia compartilha suas reflexões e experiências e expressa surpresa e humildade ao ser comparado com a melhor dupla da história.
Tapia reconhece sua formação privilegiada, tendo jogado com os melhores jogadores e aprendido com eles. Após se tornar número 1, Tapia expressa gratidão à sua família por apoiá-lo e por permitir que ele realize seu sonho e menciona a importância de estar feliz como pessoa, não apenas como jogador ou profissional.
O “Mozart de Catamarca”, que na semana passada não competiu no Danish Open devido a uma sobrecarga muscular de Arturo Coello, está se preparando para voltar às quadras em Viena (23 a 28 de maio), onde buscarão seu oitavo título consecutivo. Como se motivar após alcançar o número 1, a chave da parceria com Coello, sua maturidade como profissional, o clique mental no Chile e mais. Confira a tradução da entrevista na íntegra:.
P. Uma semana, um mês, um ano… Qual é a sensação de ser o número 1?
R: É uma sensação única. O que aconteceu é algo que nunca vou esquecer na vida. Não consigo explicar. Muitos pensamentos vêm à mente de todos os anos e todo o sacrifício desde o primeiro dia em que comecei a jogar padel. Você não tem noção do que é se tornar o melhor no esporte que ama. No entanto, sou da opinião de que o número 1 é quem termina o ano como número 1. Quem ganhou a maior quantidade de torneios e acumulou mais pontos. O que aconteceu agora foi incrível, mas ainda falta muito.
P: Dizer isso é uma forma de continuar mantendo um objetivo vivo?
R: Sem dúvida. Isso nos pegou muito cedo em relação ao que pensávamos com Arturo. Havia muitas coisas antes de ganhar sete torneios e chegar ao número um. Tudo aconteceu muito rápido. Agora, o que vai me motivar é o fato de que no ano passado, com Sanyo (Gutiérrez), tivemos um ótimo começo, não tão bom quanto este, mas depois tivemos uma queda. Espero que isso não aconteça novamente e tentarei manter a regularidade. E, no final do ano, que aconteça o que tiver que acontecer.
P: Vamos voltar para o Open de Vigo. Na final, você jogou, pela primeira vez na sua carreira, uma partida para se tornar número 1. Alguma coisa mudou na rotina? Como foi a noite anterior?
R: Não, eu não mudei nada. Estávamos com Fede, meu cinegrafista e amigo, meu primo que veio por três meses e se tornou uma superstição. Levamos tudo muito normal para o que era e tentamos ficar o mais relaxados possível. É muito bom para mim não pensar muito no torneio e no jogo até chegarmos à quadra. Eu me distraio. Mas a verdade é que não era um jogo qualquer. Desde que vencemos a semifinal (contra Stupaczuk – Di Nenno), sabíamos que estávamos jogando tudo no dia seguinte. Terminei aquele jogo com uma dor no joelho e eu, que geralmente não costumo me tratar, fui ao fisioterapeuta por uma hora e meia. Não queria deixar escapar nenhum detalhe. À noite, não tive dificuldade para dormir, mas em um momento acordei e fiquei acordado por uma hora.
P: E o que aconteceu nessa hora?
R: Eram nervos estranhos e não consegui voltar a dormir. Falei comigo mesmo e disse que ainda faltava muito. Geralmente, quando termino de jogar tarde, fico muito agitado. Foi aí que o Arthur (Arturo) me deixou um bilhete com uma mensagem para colocar gelo no joelho e dois doces de melatonina para me recuperar bem. Aquele bilhetinho foi muito bom, não sei se vocês viram: dizia “descanse que amanhã faremos história”. E assim foi.
P: O que mais te surpreendeu depois de conquistarem a vitória?
R: Um pouco de sensação de alívio, de ter conseguido. Mas nada mudou, encarei de forma normal. Tivemos uma pequena comemoração entre os mais íntimos e depois tudo voltou ao normal. Foi tudo muito rápido porque tínhamos que pegar outro avião para jogar outro torneio e não tínhamos tempo para pensar. Mas quando o Arthur me disse que não estava bem para Copenhague e que não iríamos, foi aí que tive um tempo livre e a ficha caiu mais.
P: Vamos falar sobre o jogo. De fora, pareceu que vocês dominaram até o 5-3 do segundo set, quando Lebrón e Galán voltaram à disputa. Como você gerenciou essa mudança tão radical?
R: Eu comecei um pouco nervoso, não jogando mal, mas também não fazendo diferença. Embora eu confie 100% no meu parceiro, fiquei surpreso com a tranquilidade com que ele entrou para jogar, como se fosse apenas mais um jogo, enquanto eu estava muito tenso. Só estava passando a bola. E no segundo set, quando nos vimos prestes a vencer, mil coisas passaram pela nossa cabeça. Na nossa parceria, temos uma brincadeira: sempre antes de cada jogo, perguntamos um ao outro “quem vai puxar o carro hoje?”. Em um jogo longo, isso vai se alternando. Quando tivemos as oportunidades e não as aproveitamos, vi que ele estava bastante abalado e pensei “
P. Há um Agustín Tapia mais profissional este ano?
R. Como todo garoto que passa por diferentes estágios de amadurecimento. Não estou dizendo que agora sou muito maduro. Mas fui aprendendo. Este ano, fiz muitas mudanças, mas quero continuar melhorando. A motivação de jogar com Arturo fez com que eu modificasse hábitos, e essas pequenas mudanças somaram bastante. Não preciso ficar postando coisas nas redes sociais o tempo todo para mostrar que estou trabalhando. Se minha equipe souber, é suficiente para mim.
P. Há quantos anos você vinha ouvindo “Tapia vai ser número 1” e como lidou com isso?
R. Nunca dei atenção a isso. Eu sei que para ser o melhor, é preciso fazer muitas coisas bem, e eu estou cada vez melhorando nelas. Sabia que dependia de mim, por isso não prestava atenção ao que vinha de fora, nem à pressão que poderia significar não ser o número 1.
P. Como vocês lidam com o trabalho diário com três treinadores diferentes?
R. Temos claro que antes de cada torneio, há três pessoas trabalhando juntas. Quem está no banco não nos influencia. Sabemos que as ideias vêm dos três, pois eles conversam antecipadamente. A única coisa que fazemos é confiar. Nunca tinha acontecido de ter tantos treinadores, e essa experiência é muito positiva, pois aprendo coisas de diferentes perspectivas.
P. Como você vê a temporada de Galán e Lebrón? Falou-se sobre lesões e a perda do número 1…
R. A verdade é que as lesões são uma droga. São muitos torneios e isso pode acontecer com todos. Mas, se não me engano, nós ganhamos deles três vezes este ano: em Abu Dhabi, Santiago e Bruxelas. Não acredito que a questão do número 1 se deva apenas às lesões. Também conseguimos vencer quando eles não estavam. Portanto, foi mais mérito nosso. Eles não estavam em 100%, mas há outras duplas muito fortes que vencemos, como Di Nenno e Stupa, que têm nível para serem os número 1.
P. Se vocês forem para o ranking Premier, vocês começam de trás devido à sua ausência nos primeiros torneios de 2022…
R. Eu sei que este ano estamos em uma transição. Se eu tiver que começar como a quinta ou sexta dupla em outro circuito, não tem problema, pois se mantivermos o nível de jogo, também podemos chegar ao topo lá.
P. Como você se sente sendo comparado a casos como o de Bela e Juan Martín Díaz?
R. Eu não entendo nada (risos). Ser comparado com a melhor dupla da história é incrível. Até fico envergonhado de me ver na foto com eles. Mas sabemos que estamos conquistando isso, mesmo que ainda não tenhamos percebido o que alcançamos. Às vezes penso na comparação entre Messi e Maradona. Como você os compara? Eles nunca jogaram um contra o outro. Eram tempos diferentes, jogavam contra outras duplas. Não estou dizendo que seja melhor ou pior, mas a comparação é muito difícil.
P. Pode-se dizer que você teve a melhor formação de todo o circuito…
R. Totalmente. Fui privilegiado. Joguei com os dois melhores da história e com os números um como Sanyo e Lima. Com um grande como Jardim. Tive muita sorte no percurso e aprendi com todos.
P. Depois de se tornar número 1, te vimos abraçando e muito emocionado com seu pai, sua mãe e suas irmãs. O que você tem a dizer a eles?
R. Agradecer por me darem a vida, por me permitirem realizar meu sonho. Só minha família sabe dos sacrifícios que fizeram para que eu esteja aqui hoje. Não tenho palavras além de agradecimento. Assim que cheguei à Espanha, antes de me tornar número um, meu objetivo era trazê-los para Barcelona e voltar a viver com eles. Saí de casa aos 15 anos (Nota do Editor: ele se mudou de Catamarca para Rosario para treinar), muito jovem, e estou vivendo agora o tempo que não pude desfrutá-los. É perceptível que sou um jogador feliz, mas também um filho que se sente o melhor filho do mundo. Mais do que como jogador ou profissional, hoje sou feliz como pessoa. Isso me ajudou muito a chegar onde estamos agora.
P. O que vem pela frente com Arturo?
R. Queremos continuar nos mantendo, não apenas em termos de resultados, mas também em termos de jogo. Há muitos torneios pela frente e queremos continuar aprendendo juntos. Temos muitas coisas para viver. Se tivermos que perder, perderemos. E se ganharmos, continuaremos com a mesma fome que tivemos até agora. Entramos em quadra sabendo que podemos sair derrotados, mas também que vamos tentar “devorar” os adversários, como temos feito.
P. Vamos sair um pouco do pádel. Praticamente você não teve um fim de semana livre este ano. Como aproveita o pouco tempo entre os torneios?
R. Agora que não estamos em Copenhague, imagine. No final, são tantas viagens que valorizo muito estar em casa por meio dia. Uma semana sem torneio é positiva, pois treinamos muito, mas também precisamos aproveitá-la. Ainda somos jovens e precisamos viver. Na semana passada, eu disse: “Não vou ver nada de pádel”, porque sofro quando não jogo. Mas quando volto dos treinos, meu pai está assistindo o tempo todo, então é complicado…
P. O que você gosta de fazer no seu tempo livre?
R. Estar em casa, no quintal. Fazendo qualquer coisa, mas aqui. Esta é um pouco a casa da cidade: as pessoas vêm o tempo todo e eu gosto disso. Tomo chimarrão, jogo videogame. Não sou de sair muito.
P. O Bela não te convidou para o jantar com o Messi?
R. Hahaha, ele guardou isso para mim. Fico feliz em ver os dois melhores da história juntos. E espero que um dia eu possa conhecer o Lionel!
Assista a entrevista em espanhol:
FONTE: OLÉ